quarta-feira, novembro 30, 2005

Amor, Amizade e Sexo ( III )

O medo relacionado com o encantamento amoroso é que determina o estado que chamamos de paixão: paixão é amor mais medo!
Temos medo de perder aquela pessoa tão especial e do sofrimento que, nessa condição, teríamos. Temos medo de nos aproximarmos muito dela e de nos diluirmos e nos perdermos de nós mesmos em virtude de seus encantos. Temos enorme medo da felicidade, já que em todos nós os momentos extraordinários se associam imediatamente à sensação de que alguma tragédia irá nos alcançar - o que, felizmente, corresponde a uma fobia, ou seja, um medo sem fundamento real. As fobias existem em função de condicionamentos passados e devem ser enfrentadas de modo respeitoso mas determinado.
Para ser feliz no amor é preciso ter coragem e enfrentar o medo que a ele se associa. Esse é um exemplo da utilidade prática do conhecimento: ao sabermos que o amor - aquele de boa qualidade, que determina a tendência para a fusão e provoca a enorme sensação de felicidade - sempre vem associado ao medo, não nos sentimos fracos e anormais por sentirmos assim. Ao mesmo tempo, adquirimos os meios para, aos poucos, ir ganhando terreno sobre os medos e agravando a intimidade com aquela pessoa que tanto nos encantou.
Quando o medo se atenua, desaparece a paixão. Isso não deve ser entendido como o enfraquecimento ou o fim do sentimento amoroso pleno. Sobrou "apenas" o amor. O que acaba é o tormento, o "filme de suspense". Fica claro que a coragem é requisito básico para a vitória sobre o medo e a realização do encontro amoroso. O encontro é menos ameaçador quando somos mais independentes e capazes para ficar sozinhos; nossa individualidade mais bem estabelecida nos faz menos disponíveis para a tendência à fusão que é usual no início dos relacionamentos mais intensos. Quando o medo se atenua costuma aumentar o desejo sexual. Se o parceiro escolhido for também um amigo não faltarão ingredientes para a perpetuação do encantamento. Desaparece o medo mas não desaparecerá o encantamento, a menos que a única coisa interessante fosse o "filme de suspense" - e se for esse o caso é melhor que o relacionamento termine aí. No +amor assim constituído, o encantamento só desaparecerá se desaparecer a admiração.
(continua)