segunda-feira, janeiro 17, 2005

Profundezas do Corpo

"Cá por mim pressenti o sexo em cenário inesperado, estava numa aula de ginástica e deslizando corda abaixo, numa tentativa de ganhar à Mafalda.
Não digo que não tivesse perdido de qualquer maneira, mas de repente o corpo descia vertiginosamente para o chão e algo dentro de mim se recusava a descer, pelo contrário!, subia para as nuvens. Algo que ardia entre as coxas, se espalhava pelo corpo inteiro e invadia a minha espantada cabeça.
Não era preciso ser boa aluna a Física para entender que o atrito da corda tinha culpas no cartório, mas o que sentia não era o cheiro de pele queimada; o que ardia ardia dentro, e por isso desprezava o olfacto e os outros quatro sentidos. (...) percebi que tinha diante de mim um projecto de investigação científica mais interessante do que as respeitáveis e úteis explicações que obtivera aquando da primeira menstruação.
O grosso das experiências levei-as a cabo no sossego da cama. (...) Tudo isto para dizer que fui explorando o corpo a solo e devagar, sem medo de cair nas profundezas aonde reina Satanás."

“Olhos nos Olhos” de Júlio Machado Vaz