sexta-feira, fevereiro 18, 2005

A Ressureição Economicista da Religião


Deus morreu, disse Nietsche. Nietsche morreu, diz Deus.
E, na verdade, pela boca dos seus novíssimos profetas, curiosamente todos eles economistas e teóricos da gestão.
Desde o início da nova crise mundial capitalista e da viragem neoliberal a ela associada, as comunidades religiosas começaram e empresarializar-se completamente, com uma força dos diabos.
As grandes igrejas consideram-se cada vez mais como prestadoras de serviços nas questões de dar sentido à vida, vendem consolo e edificação, tal como a MacDonalds vende hamburgers ou a Beate Ushe lingerie provocante. E as tenebrosas seitas evangélicas, que a partir dos EUA missionam o terceiro mundo, organizaram-se como conglomerados transnacionais, no que de resto se assemelham à organização terrorista Al Qaeda.
Por todo o lado as congregações são objecto de racionalização, como a Volkswagen, e exploram-se os mercados da fé, tal como os mercados de tabletes de chocolate ou de minas anti-pessoais.
O marketing é tudo num mundo que até Deus consegue transformar numa mercadoria, e assim o ressuscitou do túmulo como cadáver ambulante.
Depois de a religião se ter deste modo amavelmente empresarializado e vergado a cerviz ao espírito do tempo, agora os economistas esmeram-se a converter com igual delicadeza o domínio da sua especialidade em religião. Lembra-se reconhecidamente o estudo de Max Weber, publicado em 1905, sobre a conexão interna entre capitalismo e protestantismo, tendo sido entretanto piedosamente incluídos na benevolência da economia nacional também o catolicismo e a religiosidade em geral.
Apenas do Islão se continua a dizer, quem diria, que não gosta assim tanto da propriedade privada e da concorrência. Por outro lado, contudo, não é só a avareza que é atractiva, também a fé.
Como sempre na economia política, tudo se passa de modo estritamente científico. Assim, como relata o jornal Handelsblatt, Robert Barro, teórico do crescimento de Harvard, juntamente com Rachel McCleary, estudou em 59 países se a "dimensão da religiosidade" de um país apresenta "correlações significativas com variáveis macroeconómicas como o rendimento per capita".
E vejam lá: em todo o lado, onde é mais intensa "a fé no céu e no inferno", há também uma mais fantástica "performance da economia nacional".
Quem considerar isto uma sátira da realidade vai para o inferno

Por: Robert Kurz