O Sexo e as Classes Sociais
(continuação de Inocente ou Culpada? Proíbido Porquê? Herança Maldita e Século XIX - A Era Vitoriana)
Nesse período, como em tantos outros, havia uma dupla moral. As classes mais altas e as mais baixas socialmente podiam fazer o que quisessem, pouco se importando com as consequências. Entretanto, é a classe média que expressa o comportamento vitoriano clássico em relação ao sexo. E, como era a classe mais influente na época, suas idéias é que prevaleceram para a posteridade. Embora a rainha Vitória tenha personificado a censura sexual vitoriana, ela conseguiu manter até os 40 anos de idade todo o vigor e a capacidade de desfrutar o sexo.
Após a morte do príncipe consorte, em 1861, a nação inglesa associou-se à tristeza que afectava a rainha, tendo sido com sua aprovação tácita que as forças da repressão começaram a aumentar o controle sobre o país.
A classe média identificava-se com a rainha durante todo o reinado, sentindo-se culpada ao comparar seu comportamento sexual com o celibato forçado da soberana. Esta culpa levou à hipocrisia. A classe média sentiu-se compelida a fingir que se comportava de uma forma, que teria a aprovação não apenas da rainha, mas da Igreja.
O pensamento religioso atribuía importância à família, mas enfatizava que o sexo, embora necessário para a procriação, constituía-se em uma infeliz necessidade e não em algo a ser desfrutado.
A reclusão sexual da rainha Vitória enfureceu e alienou as classes mais altas, que se voltaram para seu filho Eduardo, príncipe de Gales, o futuro Eduardo VII, buscando um líder.
A rainha permaneceu como imagem de mãe da classe média e da classe trabalhadora melhorada, que aspirava status de classe média. A rainha detestava controle de natalidade, que taxava de "coisa horrível"; a classe média dizia o mesmo, mas à surdina, o praticava.
O nascimento de uma criança era para Vitória o "lado negro do casamento", vergonhoso e degradante, o que passou também a ser posição da classe média.
Tal como o sexo, tratava-se de algo escuso, feito em segredo, e muitas mulheres para manter sua dignidade durante a gravidez, mantinham-se vestidas com espartilho até o trabalho de parto, apesar das dores intensas.
Mas não era só na Inglaterra que o prazer sexual era visto como algo degradante.
O neuropsiquiatra alemão Krafft-Ebing, estudioso da patologia sexual, encarava a sexualidade como uma espécie de doença repugnante, para as mulheres, claro.
Sobre elas ele era categórico: "Se a mulher for normalmente desenvolvida e mentalmente bem criada, seu desejo sexual será pequeno. Se assim não fora, o mundo todo se transformaria num prostíbulo e o casamento e a família, impossíveis. Não há dúvida de que o homem que evita as mulheres e a mulher que busca os homens são anormais."
(continua)
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