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![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNUiA3ibYmNqIMolSOaMayjEWg7_XKf_nhSQC4R_o3LDAqYDsbffQU3gq9Axm3ZomBMnX_tkJ3LfJoaFzO3-iM6vIVLbdeW60nF4_PMfzOYsTTG2cdREAa2j6JDzVqjSefuiF2/s400/mulher+vermelho.jpg)
Sou uma espécie de carta de jogar, de naipe antigo e incógnito, restando única do baralho perdido. Não tenho sentido, não sei do meu valor, não tenho a que me compare para que me encontre, não tenho a que sirva para que me conheça. E assim, em imagens sucessivas em que me descrevo – não sem verdade, mas com mentiras – vou ficando mais nas imagens do que em mim, dizendo-me até não ser, escrevendo com a alma como tinta, útil para mais nada do que para se escrever com ela. Mas cessa a reacção, e de novo me resigno. Volto em mim ao que sou, ainda que seja nada. E alguma coisa de lágrimas sem choro arde nos meus olhos, alguma coisa de angústia que não houve me empola asperamente a garganta seca. Mas ai, nem sei o que chorara, se houvesse chorado, nem porque foi que o não chorei. A ficção acompanha-me, como a minha sombra. E o que quero é dormir.
Bernardo Soares